O
autoconhecimento caminha lento feito lagarta. É um processo longo e
doloroso. Conhecer o mundo já é dolorido. Se autoconhecer é quase
insuportável. Às vezes, se abandona no orvalho limpo das manhãs. Outras
vezes, se constrói muralhas, fecha-se em si mesmo. Cria um muro de
certezas só para ter o que demolir na madrugada seguinte. O casulo não é
confortável, nem instável, é necessário... como respirar, e como
respirar, às vezes, é dificultoso. Há um orgulho quase doentio no seu
casulo. O afastamento das pessoas e dos sentimentos é quase prazeroso.
Por um tempo, é só você e você mesmo. Sem agendas, formalidades,
compromissos, juízo de valor ou conveniências. É você no modo
automático. É você aprisionado para o renascimento. Para as coisas novas
que negligenciou até agora ou para as que nem sabia que existia.
E
se vai reconhecendo o peso dos séculos sobre suas pálpebras cansadas de
ver errado. E metafisicamente se vai assassinando uma a uma todas as
ilusões. Aprendendo prosaicamente. E descobre que se pode aprender tudo,
inclusive a amar. Então, a felicidade que se configura logo ali, na
explosão do vôo, se aprender e se apreende.
A
metamorfose é lenta e no processo surgem novas lagartas. E novos
casulos dentro do próprio casulo. É a complexidade da transmutação. Da
vida tomando novas formas. É tudo uma questão de paciência e de
compreensão de que para longos vôos, o casulo é tão necessário quanto a
asa.
[ Lia Araújo]
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