A
gente cuida do cabelo, da pele, das unhas, do corpo, da casa, do carro,
dos filhos. Arruma, ajeita, organiza, guarda. E o que tem acontecido
com nossos guardados da alma? O que estamos reciclando, desperdiçando,
acumulando, estragando?
Somos caixa de guardados, amontoado de coisas, escolhas, sentimentos,
lembranças. Pedaços de nós virando caminho, misturando pés e estrada.
Quebra cabeças, colcha de retalhos.
Alguns guardados tem cheiro de cuidado e encontra fácil nosso sorriso.
Outros, apertam nosso peito e aborrecem nossos olhos. E quando
aprendemos a identificar o que se guarda e o que se joga fora? Quando
não doer mais, quando o mal cheiro incomodar, quando precisamos de
espaço. E esse dia sempre chega. Embora vez ou outra adiemos a faxina,
chega o tempo em que sentimos necessidade do cheiro de casa limpa, de
espaço nas gavetas, de novas cores nas prateleiras. O importante é
analisar cada peça, reler cada pedacinho de papel, tocar cada sentimento
e separar o que soma, o que alegra, o que ensina, o que nos torna
melhores, mais amplos, mais fortes, mais leves. O resto? O resto a gente
joga na lixeira do esquecimento.
É preciso enxergar além do que se vê para saber identificar o que se
descarta e o que vira relíquia.
renata fagundes
< http://nollivrodavida.blogspot.com.br >
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